evento, de uma interpelação, de um encontro, assim é também
a sala de exposição. Esses lugares compartilham uma
disposição ao anonimato. O “cubo branco” da galeria tende a
fazer desaparecer todos os sinais de identificação e ecoa
tentativa de induzir o paciente à passividade. Em ambas, a
encontro marcado.
SALA DE ESPERA PARA LUGAR NENHUM, sala de espera para a
locação (utopia). Sala para ainda esperar uma possibilidade
de viver junto, de se estabelecer numa relação melhor, de
construir uma política mais humana, ninguém sabe onde, todos
sonhando que esteja aqui. Mas, frente à suposta falência das
possibilidades utópicas no período atual, entregue ao
sonhar e atuar. As heterotopias são, segundo Michel
Foucault, esses “lugares reais, lugares efetivos, lugares
espécies de contra-situações, espécies de utopias
efetivamente realizadas nas quais as situações reais, todas
as situações que podem ser encontradas dentro da cultura são
ao mesmo tempo representadas, contestadas e invertidas.
Espécies de lugares que são fora de todos os lugares, ainda
que estejam no entanto efetivamente localizáveis.”
A galeria de exposição é uma dessas heterotopias onde todas
as contra-situações são possíveis, onde o tempo se suspende
Marco Paulo Rolla, Paulo Nazareth e Wagner Rossi, o primeiro
evento é ao mesmo tempo uma situação flagrante e a ocultação
de todos os eventos esperados. Um evento flagrante pela
presença estupenda da cor, “cor de rosa” ready-made do
tapume de compensado, material trivial elevado ao estatuto
de obra no encanto da cor. Ocultação porque o tapume
esconde, porque não se pode esperar que é somente isso que
há de ser visto, porque a espera há de ser sempre para muito
mais. Muito mais que acontecerá na suspensão-abertura
temporal da espera.
Augustin de Tugny
Março de 2010
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