terça-feira, 6 de abril de 2010

texto de sala - Augustin de Tugny









 
A sala de espera é suspensão temporal, expectativa de um

evento, de uma interpelação, de um encontro, assim é também

a sala de exposição. Esses lugares compartilham uma

disposição ao anonimato. O “cubo branco” da galeria tende a

fazer desaparecer todos os sinais de identificação e ecoa

com a caracterização branda da sala de espera e sua

tentativa de induzir o paciente à passividade. Em ambas, a

disposição dos lugares é toda agenciada para o surgimento do

evento, preparada e ordenada pela fila igualitária e o

encontro marcado.



SALA DE ESPERA PARA LUGAR NENHUM, sala de espera para a

utopia, para a impossível felicidade sonhada (eutopia) e sem

locação (utopia). Sala para ainda esperar uma possibilidade

de viver junto, de se estabelecer numa relação melhor, de

construir uma política mais humana, ninguém sabe onde, todos

sonhando que esteja aqui. Mas, frente à suposta falência das

possibilidades utópicas no período atual, entregue ao

pragmatismo absoluto, só nos restam as heterotopias para

sonhar e atuar. As heterotopias são, segundo Michel

Foucault, esses “lugares reais, lugares efetivos, lugares

desenhados na instituição mesma da sociedade, e que são

espécies de contra-situações, espécies de utopias

efetivamente realizadas nas quais as situações reais, todas

as situações que podem ser encontradas dentro da cultura são

ao mesmo tempo representadas, contestadas e invertidas.

Espécies de lugares que são fora de todos os lugares, ainda

que estejam no entanto efetivamente localizáveis.”



A galeria de exposição é uma dessas heterotopias onde todas

as contra-situações são possíveis, onde o tempo se suspende

e os possíveis se tornam eventos e experiências. Na “sala de

espera para lugar nenhum” proposta por Juliana Alvarenga,

Marco Paulo Rolla, Paulo Nazareth e Wagner Rossi, o primeiro

evento é ao mesmo tempo uma situação flagrante e a ocultação

de todos os eventos esperados. Um evento flagrante pela

presença estupenda da cor, “cor de rosa” ready-made do

tapume de compensado, material trivial elevado ao estatuto

de obra no encanto da cor. Ocultação porque o tapume

esconde, porque não se pode esperar que é somente isso que

há de ser visto, porque a espera há de ser sempre para muito

mais. Muito mais que acontecerá na suspensão-abertura

temporal da espera.



Augustin de Tugny

Março de 2010

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